Um bom dia a todos da comunidade Atea, quero pedir desculpas por ser membro da comunidade à alguns anos e nunca ter cooperado quando vocês me enviavam comunicados via e-mail, pois tenho muitos problemas para resolver e não consigo fazer nada a não ser pensar neles, peço desculpas também por não poder contribuir financeiramente com a organização, estou em condições financeiras precárias.
Tenho um depoimento que nos interessa muito e está relacionado ao preconceito que nós ateus sofremos pela sociedade, e ao mesmo tempo fazer um desabafo, sobre o que tenho passado e ainda passo na minha vida. Lembrando que esta é para quem tem paciência de ler, pois o texto é um pouco grande.
Desde já peço que tenham mais um pouco de paciência comigo pois sou mau em me expressar e cometo muitos erros de português.
Moro na zona leste de São Paulo na região de São Mateus, e o que me parece, é que sou o único ateu por aqui.
Nos últimos quinzes anos até hoje tenho passado muita dificuldade para sair das dividas, e tristeza por ter sido casado com uma pessoa a qual apesar de estarmos separados e com os papeis para divórcio nas mãos do advogado, e esse divorcio ter sido pedido por mim, eu ainda gosto muito dela, apesar de nossos conflitos não me esqueço dos nossos momentos bons que passamos juntos. Para alguns essa atitude pode até parecer estranha, mas, é melhor viver só do que com alguém que não goste de você. Como sempre gostei de liberdade também dou liberdade e pedi o divórcio por ela e não por mim, e ninguém acredita porque sou ATEU, todos acham que eu sou o culpado pela destruição do nosso relacionamento, imagino que se eu ainda fosse baterista da bandinha daquela igrejinha localizada no bairro pobre da zona leste de São Paulo todos me olhariam de outra forma.
Nosso casamento começou a cair quando tivemos os filhos, primeiro tivemos um, depois por descuido vieram dois de uma só vez, e as dificuldades começaram a aumentar, minha renda era e ainda é baixa não ultrapassa a três salários mínimos e a dela também. Eu esperava que minha esposa compreendesse que não eramos mais eu e ela, agora eramos em cinco pessoas, mas ela não compreendeu, e começou usar a renda dela somente com coisas do seu interesse e me deixava bancando praticamente todas as nossas despesas sozinho. O tempo foi passando e cada vez mais eu ficava estressado e muito chateado com a atitude dela e brigávamos muito, ela me provocava a ira e eu também à provocava, eramos uma família somente na hora de comprar no momento de pagar eu que tinha que me virar, tive que economizar em tudo para conseguir manter a família e mesmo assim era difícil, e ela me tratava como quem tivesse muito dinheiro e não quisesse gastar, e com essas atitudes dela comecei a sentir que ela não queria mais viver comigo e a alimentar a crença de que ela queria separação e começar a vida com outro que possa pagar pelos seus gostos. Nesse período quase nos separamos, mas concordamos em continuar tentando melhorar o nosso relacionamento.
Sempre que saiamos com nossos filhos ficávamos super irritados com as pessoas que usam o transporte coletivo publico, eu entrava no ônibus com meus dois filhos gêmeos e ela com o mais velho no colo, e ninguém se levantava para nos dar assento, o motorista parava o ônibus, olhava para traz e gritava – Pessoal, ninguém vai se levantar pro casal se sentar? Só então alguém se levantava. Por isso me vi na necessidade de comprar um carro para podermos sair com nossos filhos, procurei o veículo mais barato pela internet, analisei nosso orçamento e vi que se eu e ela nos esforçássemos conseguiríamos pagar o veículo, e então o comprei financiado. Foi ai que as brigas começaram a voltar.
Eu estava no terceiro ano do curso de engenharia mecânica quando tive que trancar a matricula por ter comprado o carro. Esperava que minha esposa fosse me ajudar, mas quando a dificuldade voltou e eu não tinha dinheiro para comprar o que ela queria, ela deixou de me ajudar com o orçamento de casa e voltou a gastar com coisas do seu interesse. Fiquei muito estressado devido a dificuldade para aprender o ensino superior com um ensino médio muito fraco que tive, foi com muita dificuldade que passei do primeiro ano para o segundo e do segundo para o terceiro, eu saia de casa as 7h e voltava as 23h e 30min, todas as noites quando chegava da escola eu era quem preparava o mingau para os meus filhos beberem na manhã seguinte antes de irem para a creche, e passei vários dias indo dormir a partir das 4h tentando aprender as matérias do curso. E para completar esse estresse comecei a dever a escola, tive que escolher ficar com o carro ou a escola, e para continuar beneficiando os meus filhos escolhi o carro, pois foi justamente para beneficio das crianças que o comprei, nunca o usei para trabalho ou escola, para isso eu usava a motocicleta que me economizava muito no transporte, a escola mais tarde eu poderia continuar, mas tirar o carro das crianças seria no meu ponto de vista muita perversão, por mais que eu não tinha dinheiro para fazer viagens com eles, se divertiam mesmo indo a qualquer lugar de carro.
Nossa dificuldade financeira começou a aumentar pois nas minhas tentativas de sozinho manter as despesas da casa, carro e escola, fiquei devendo a escola por quatro meses e durante esses quatro meses eu tentava ir a escola e não conseguia, eu não tinha forças para estudar por tanta preocupação e estresse e muitas discussões com minha esposa, e por isso estou com a matrícula do curso trancada até hoje. Na tentativa de amenizar este clima ruim entre nos, fazia tudo o que ela queria só para vê-la um pouco mais feliz (mesmo sabendo que iria me prejudicar financeiramente), e ela continuava sempre voltada para seus próprios interesses, só me ajudava a pagar o que achava melhor, e isso me entristecia cada vez mais.
A cada dia que passava eu ficava mais triste, irritado, e ela ao invés de me ajudar a resolver nossos problemas, me menosprezava por não poder trazer melhoras para nossa família, e dava mais atenção aos parentes e amigos, e cada vez mais eu me irritava por ver o quanto ela era egoísta e só pensava no seu bem estar. Enquanto ela andava toda arrumada com roupas novas a todo momento, perfumes caros, produtos de beleza, eu e meus filhos usávamos roupas novas e usadas de nossos parentes e amigos que nos davam, porque meu dinheiro não sobrava para nada a não ser pagar as dividas acumuladas e as coisas mais necessárias que precisávamos para o nosso sustento. E com tudo isso os parentes e amigos só viam o erro em mim, porque sou ATEU.
Não falávamos mais um com o outro, dormíamos na mesma cama porém um longe do outro, me afastei dos familiares e amigos, quando os vejo na rua é só bom dia, boa tarde e boa noite, eu fiquei muito triste e irado por todos me verem como o erro de tudo isso. Novamente comecei a achar que ela não queria mais viver comigo, e aparentava estar sedenta por tentar uma nova vida com outra pessoa, porém ela não tinha coragem de pedir a nossa separação, talvez porque tinha medo de qual seria a reação dos parentes que por mais que me discriminavam por ser ATEU, sabiam que sempre fui uma pessoa de bem, ou, por causa de suas crenças que dizem todos serem unidos por deus. Foi então que decidi convidá-la a nos separarmos. Eu não suportava mais viver com alguém que não queria estar comigo.
Ela saiu da minha casa (a casa é minha e dos meus irmãos, de herança da nossa mãe falecida) e levou com ela meus filhos e determinou sem nenhuma orientação judicial que eu iria ver meus filhos somente no sábado e domingo, e deveria pagar a pensão, me recusei a pagar pensão porque quero a guarda compartilhada, sempre cuidei dos filhos melhor que ela, quando vivíamos juntos ela passava mais tempo na casa dos parentes, amigos, e pais do que em casa, e quem cuidava da limpeza da casa, das roupas, almoço e jantar era eu, e todas as vezes que ela saia com as amigas me deixava com meus filhos sem nem se lembrar que era mãe, só se importava com a diversão própria. Ela foi até a justiça para me cobrar pensão, mas no dia da audiência de conciliação, me recusei apagar e pedi a guarda compartilhada, me deram dez dias para preparar a minha defesa, e consegui o advogado na defensoria publica, e o advogado já entrou com pedido de divorcio também.
Agora vejam o como é chato a discriminação:
Para provar que realmente eu cuido de meus filhos eu preciso de três testemunhas, e das três pessoas que podiam provar o quanto eu era dedicado aos cuidados das crianças um asseitou e os outros dois se recusaram a serem minhas testemunhas, somente porque sou ATEU. Elas não iriam falar nada sobre o relacionamento meu com a esposa ao juiz, somente iriam afirmar que eu cuidava muito bem dos meus filhos, mas mesmo assim se recusaram, fiquei muito chateado porque essas duas pessoas são parentes muito próximos.
Hoje faz quase um ano que estamos separados, meu filho mais velho tem dez anos e os gêmeos oito. E estou muito triste pois minha ex já está namorando, e estou contente porque tapei a boca desse povo que sempre me condenou pela nossa separação, como se ela fosse a santinha e eu o malvado, se ela me amasse tanto quanto eu, ainda estaria só, e ao invés de ficar me mandando mensagens por sms me pedindo dinheiro de forma grosseira, me pediria para recomeçarmos. Mas realmente o desejo dela sempre foi tentar uma nova vida com outra pessoa. E se não fosse por mim ela não teria tentado um novo relacionamento.
Agradeço a todos que leram, pois vocês são os únicos com quem posso me desabafar. Um abraço a todos.
Valci
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