A dificuldade de ser ateu entre crentes

Postado por: Paulo Antunes Tags: Atea | Categorias: Depoimentos

outubro
23

Fui criado em um ambiente predominantemente católico. Mesmo assim, minha mãe tomou uma decisão muito sábia, que foi de promover meu contato com o máximo de religiões que ela conhecia e tinha acesso. Não bastasse frequentar os locais (igrejas, templos, terreiros, etc.), estudei em escolas luteranas, adventistas e outras mais.

O objetivo dela era me deixar livre para escolher, contudo, acabei participando mais ativamente dos ritos católicos e me defini como um por muito tempo. Lembro do quanto ficava preocupado em passar frente a uma igreja e não fazer o sinal da cruz ou pular uma missa no domingo.

Aos poucos isso foi passando, muito em função da maturidade e senso crítico adquiridos, sem contar as diversas bizarrices que tinha que ouvir a cada vez que ia em uma missa. Acabei buscando respostas em outra religião (nesse caso, em uma doutrina) e passei a me definir como espírita, lendo livros e participando dos centros onde isso é disseminado. Serviu por um tempo e nada mais.

Todas essas experiências me deixaram mais questionador e cada vez mais cético, até que em um determinado momento questionei a própria existência de deus. Acho que o divisor de águas foi olhar um pedinte na rua, com alguma deficiência física e me questionar como um deus de bondade, amor e misericordioso seria capaz de permitir tamanha desigualdade.

A partir de então, todas as dúvidas antes suprimidas por medo de questionar uma divindade vieram à tona e decidi que não tinha coerência acreditar em deus ou qualquer coisa parecida. Preciso confessar que foi libertador. Foi como se grilhões tivessem sido arrebentados. E foi bom. Tão bom que não consigo expressar em palavras.

Mas mesmo me sentindo bem, outras preocupações surgiram, principalmente depois que minha filha nasceu. Fui obrigado pela mãe dela a batiza-la, mesmo sendo totalmente contra. Sem contar que ela (a mãe) não sabia sequer o motivo do batismo, apenas achava que era certo pois sempre foi assim.

Enquanto estávamos casados, consegui blindar minha filha de toda a interferência religiosa, contudo, após a separação, tudo o que evitei lhe foi jogado de coice (papai do céu, anjinho da guarda e todo o blábláblá conhecido).

Não quero que minha filha fique aprisionada a dogmas que não levarão a lugar nenhum, exceto à submissão e ao medo. Não quero que ela seja forçada a frequentar lugares que não conhece e se ajoelhar perante imagens ou pessoas vis. Não quero que a folha em branco de sua cabeça seja preenchida com ideias vazias e sem sentido. Quero que ela seja livre para escolher, sem influências. Enfim, quero que ela seja feliz!

Paulo Antunes
paulotda@hotmail.com

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