Por muito tempo, fui condicionado por criação a acreditar em algo superior a mim e que, em todo tempo, se tivesse fé nele, tudo daria certo. Eu era criança, e acatar as decisões dos pais, naquela época, era com ameaças ‘divinas’ — se não fizer isso, vai para o inferno. Mal sabiam eles que o inferno é a própria Terra. Sempre estudei em escola católica, e este reforço de fé era praticamente imposto, com missas semanais, orações durante as refeições, catequese, etc.
Na adolescência, a partir dos 16 anos, comecei a questionar muitas das coisas na qual eu considerava como fé. Um destes questionamentos era a ausência divina na hora que eu mais precisava. Me perguntava sempre qual era a razão de uma ser imaginário controlar todos os meus passos, ser onipotente, onisciente — e toda aquela porra que nos falam quando somos crianças — e ter o tal do livre-arbítrio.
O tempo passa, e quanto mais racionais ficamos, menos de uma ‘muleta espiritual’ precisamos. Ao longo dos anos, fui percebendo que a tal da ‘presença divina’ era mais um pretexto para que eu conseguisse alguma coisa sem esforço e que tudo isso não passava de uma ‘cascata’. Afinal de contas, o que estava passando em minha cabeça? Depois de um tempo, fui percebendo que a racionalidade tomava conta de mim, e que todos os meus questionamentos começavam a fazer algum tipo de sentido, afinal de contas. Descobrir que a mudança e todas as coisas na qual desejava precisam vir exclusivamente de mim mesmo me deu uma luz preciosa para compreender a vida. Ser gay em uma cidade pequena já era motivo de comentários — passei a ignorá-los desde a minha pequena apaixonite por um amigo, que durou cerca de dois anos —, ser gay e ateu era motivo de comentários mais pesados, mas, ainda sim, não me importava.
Percebi a real razão da existência quando compreendi que acreditar em divindades era como acreditar no ‘amiguinho imaginário da escola primária’. Atualmente, moro em outra cidade sozinho há quase dois anos. Ainda que dizer às pessoas que sou ateu ainda choca, acredito que o meu ateísmo não é fator decisivo de caráter. É apenas uma das minhas certezas da vida. Ainda continuo sendo a mesma pessoa que há 10 anos ou 15 anos atrás, só que mais racional.
Weslei Rodrigues
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