Reparando Uma Dívida Histórica
É hora de reconhecer: ter um profundo respeito pela religião está matando a nossa sociedade – e muitas pessoas também. Guiado pelo dogma de que a religião é uma força benigna por definição, desde os atentados de 11 de setembro de 2001, o mundo tem feito toda sorte de contorcionismos intelectuais para absolver o islã de toda culpa. As pessoas são livres para acreditar nas idiotices que quiserem, mas essa idiotice em particular está matando muita gente, e pode matar muito mais quando alguns membros da religião da paz tiverem em mãos armas atômicas, o que é uma possibilidade nada desprezível e que pode levar à morte de não alguns milhares ou milhões, mas de bilhões de seres humanos.
Por isso, em favor dos milhões de muçulmanos pacíficos que são diariamente injustiçados com as visões racistas, eurocêntricas e xenofóbicas que alguns de nós têm do Islã, queremos também reparar uma dívida histórica que o ocidente tem contra o nazismo.
Ora, é fato que há milhões de muçulmanos pacíficos que nunca mataram ninguém, e nem matarão, de maneira que o islã não deve ser culpado pelas atrocidades de um grupo extremo; da mesma maneira, é verdade que um número considerável de nazistas nunca matou ninguém, de maneira que o nazismo não deve ser culpado pelas atrocidades de alguns de seus representantes.
É verdade que há trechos do corão que parecem incitar à dominação em escala global, à violência e mesmo à exterminação de grupos externos, mas essa é apenas uma interpretação literal de textos complexos de uma cultura complexa, e que não é levada a sério por grande número de muçulmanos que são pacíficos, trabalhadores, honestos, pais e mães de família dedicados. Da mesma maneira, as ideias nazistas de extermínio nunca foram levadas a sério por dezenas de milhões de alemães e não constituem a verdadeira face do nazismo, apenas uma deturpação dos verdadeiros ideais de progresso e paz do nacional-socialismo, adotados por milhões de nazistas que eram pais e mães de família dedicados, e portanto o nazismo não tem culpa nenhuma.
É verdade que condições históricas e sociopolíticas particulares de diversas áreas da África e da Ásia são combustível da rejeição contra culturas consideradas como perigosas para as populações, então são essas condições as verdadeiras culpadas pela tragédia e pela violência, não o Islã. Igualmente, as condições históricas e sociopolíticas particulares da Alemanha levaram à rejeição de culturas que não eram consideradas verdadeiramente germânicas pelo nazismo, de modo que foram a política e as condições econômicas da Alemanha os verdadeiros culpados pelo holocausto, não o nazismo.
O fato de os assassinos serem sempre muçulmanos, vestidos em roupas de estilo muçulmano e gritarem Allahu Akhbar antes de degolarem, metralharem, queimarem, afogarem ou explodirem suas vítimas é meramente incidental: é uma coincidência geográfica de pessoas oprimidas pelos mesmos motivos, e que obviamente moram nos mesmos lugares e por isso têm a mesma religião. A religião não é a causa verdadeira da sua violência. Da mesma maneira, o fato de os campos de concentração estarem nas mãos de nazistas que usavam a suástica e diziam Heil Hitler é meramente incidental, pois eram todos alemães em uma época em que o nazismo era a norma. O nazismo não era a causa verdadeira do problema, apenas uma desculpa para a violência que essas pessoas cometeriam de qualquer maneira por outras razões.
É verdade que o islã é uma doutrina que deve ser respeitada por todos, pois todas as religiões são expressões igualmente válidas que tem como objetivos finais a paz e ao aprimoramento da nossa sociedade. Não se pode condenar o islamismo pela atitude e fundamentalistas de alguns muçulmanos, que não seguem o verdadeiro islã. Esses não são os verdadeiros muçulmanos, mas uma caricatura abjeta do verdadeiro e nobre islã. E da mesma forma, deve ser verdade que o nazismo é uma doutrina que deve ser respeitada por todos, pois todos os modelos políticos e sociais são expressões igualmente válidas que tem como objetivos finais a paz e o aprimoramento da sociedade. Não se pode condenar o nazismo pela atitude fundamentalista de alguns nazistas, que não seguem o verdadeiro nazismo. Os autores do holocausto não são os verdadeiros nazistas, mas uma caricatura abjeta do verdadeiro e nobre islã.
Daniel Sottomaior