No ano passado, a revista Capricho entrou em contato com a entidade, procurando uma jovem atéia para uma entrevista mostrando as visões religiosas de diversas garotas. A reportagem está na edição atualmente nas bancas e traz breves depoimentos com a visão de garotas de diferentes religiões, alem da ateia: há uma judia, uma católica, uma evangélica, uma budista, uma espírita, uma muçulmana e uma adventista. A legenda para a foto da ateia é a seguinte:
“Sei que, quando morrer, vou pra debaixo da terra, então tento curtir o presente ao máximo. Procuro ajudar quem precisa e faço trabalhos voluntários. É um erro achar que só as pessoas que têm religiao podem ser legais. Muitas guerras foram causadas justamente por conflitos religiosos. Há bastante preconceito por aí. Já aconteceu de não deixarem eu e meu pai entrarmos num restaurante porque somo ateus e, em festas como natal, quando todos vão rezar, às vezes ficamos meio constrangidos.”
Veja abaixo a íntegra da matéria:
Mais uma vez, a Atea cumpre com seu papel de ajudar a acabar com a invisibilidade dos ateus na sociedade brasileira. Sugerimos enviar uma mensagem de congratulações à redação pela iniciativa, através do email capricho@abril.com.br.
A edição de 27 de fevereiro de 2010 da revista Época tem como reportagem de capa Chico Xavier e a alma do Brasil, que traz uma breve declaração da Atea:
“No filme [Chico Xavier, o filme], um dos pontos centrais é a história da carta escrita por Chico que serviu de prova de defesa num caso de assassinato. Em 1976, o jovem Maurício Garcez, de 15 anos, morreu com um tiro disparado pelo amigo José Divino Nunes, de 18. Chico escreveu uma carta, que teria sido ditada pelo espírito do morto, afirmando que havia sido um acidente, uma brincadeira – exatamente como afirmava o réu. Diante dos detalhes apresentados e da semelhança da assinatura, o juiz proferiu a sentença absolvendo José Divino. O caso já foi mostrado de forma dramatúrgica em 2004 no extinto programa Linha Direta, da TV Globo – e bateu recordes de audiência. Agora, nesse longa-metragem, Christiane Torloni e Tony Ramos vivem os pais do rapaz morto, com seu sofrimento e suas dúvidas sobre o fenômeno.
Daniel Sottomaior, presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, é um dos que criticam veementemente esse episódio. ‘Lamento que esse tipo de mentalidade tenha penetrado o Estado Brasileiro’, afirma. ‘Cartas psicografadas como prova judicial solapam a base da democracia moderna, que é a separação entre Estado e religião. É muito grave’.
Como é de praxe, o texto se esquiva das questões sobre a veracidade de suas alegadas capacidades, apesar de termos fornecido os autores algumas imagens de Chico ao lado de pessoas sob lençois (veja aqui e aqui) que os espíritas imaginam ser “materializações”. Mas o simples fato de terem consultado uma entidade de ateus já é um progresso, afinal de contas. Sugiro a todos que enviem cartas à redação comentando a reportagem, em especial a iniciativa de contatar a associação. O endereço é epoca@edglobo.com.br.
A associação Brasileira de Ateus e Agnósticos vem saudar o estudo publicado ontem pela revista Trends in Cognitive Sciences, cujos resultados apontaram que comportamentos éticos independem da crença em deuses. Essas conclusões confirmam um amplo espectro de motivos teóricos e de constatações históricas a respeito do comportamento humano.
Entre muitos outros exemplos, pode-se citar que a corrupção e diversos outros tipos de criminalidade apresentam os maiores índices em países com altas taxas de religiosidade, como é o caso do Brasil. E o oposto também é verdadeiro: sociedades bastante secularizadas e com altos índices de ateísmo, como ocorre em diversos países europeus, apresentam taxas pequenas de criminalidade. A mesma tendência se aplica até a comportamentos anti-sociais mas não criminosos como, por exemplo, jogar lixo na rua.
O que lamentamos é o fato de que os resultados do estudo ainda sejam vistos com espanto. A sociedade ocidental viu grandes avanços na história recente no que diz respeito aos direitos de mulheres, homossexuais e minorias religiosas e raciais. A menos de círculos restritos com mentalidade mais tacanha, dizer que qualquer um daqueles grupos é intrinsecamente imoral já deixou de ser socialmente aceitável. Os ateus, no entanto, permanecem como vilões oficiais da sociedade, vítimas de preconceito e discriminação abertos, sem qualquer constrangimento da parte dos agressores.
Essa feia verdade está presente não só no dia-a-dia dos ateus, mas nas declarações públicas de políticos, clérigos, comunicadores e até de alegados defensores de direitos humanos. Ela também foi comprovada em diversas pesquisassobre índices de rejeição, no Brasil e no exterior, que dão conta que os ateus são o grupo mais detestado da sociedade.
Esperamos que pesquisas como aquela ajudem a reverter esse quadro, e que a mídia cumpra o seu papel informando a sociedade com clareza e isenção, ao invés de contribuir com ele invisibilizando os ateus.
A diretoria
Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos