A Atea deu o primeiro passo com relação à questão do IBGE: enviamos hoje uma petição formal ao instituto, pedindo a divulgação dos dados relativos aos ateus. Os passos seguintes neste caso dependerão da resposta do IBGE.
É importante perceber que existem duas demandas em questão: uma é a obtenção dos dados já coletados com respostas de ateus e agnósticos no censo, se é que eles existem (pois existe a chance de as respostas originais terem sido descartadas). E outra questão completamente diferente é a modificação da metodologia atualmente em uso, que tende a aumentar a subnotificação de ateus, já que muitos ateus podem simplesmente responder “nenhuma” quando perguntados “qual é a sua religião?”.
Ontem, o presidente da ATEA foi a Brasília parafazer parte do programa Participação Popular, da TV Câmara, que versou sobre intolerância religiosa e deve ir ao ar no próximo dia 30, com reprises nos dias subsequentes.
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A Atea foi atendida em sua solicitação para indicar um participante para a etapa paulista da Conferência Nacional de Educação, onde defenderá um ensino público plenamente laico em ambiente laico e o fim do ensino religioso nas escolas de educação regular do país.
Clique e faça a sua parte!
http://www.leidasreligioes.divulgue.info/
http://www.ccr.org.br/a_iniciativa06c_set2009.asp
Na próxima quarta-feira, o programa Participação Popular, da TV Câmara, falará sobre intolerância religiosa. O programa contará com dois deputados (um kardecista e um evangélico), um representante da umbanda, um representante da CNBB e um representante da ATEA. Começa às 18h, e será reprisado em outros dias e horários.
No artigo O endeusamento do Estado laico, recentemente publicado pelo Jornal do Brasil, o advogado Ives Gandra discorreu sobre a ação civil pública proposta pelo MPF-SP pela retirada de símbolos religiosos de repartições federais do estado de São Paulo. Como bom representante da igreja católica apostólica romana, ele ataca a laicidade em todos os seus aspectos fundamentais, mas vamos aqui nos ater a sua declaração de que
“De rigor, o crucifixo não representa apenas o reconhecimento da presença de Deus, para os que nele acreditam. Representa, também, para os que não acreditam, a lembrança do mais injusto julgamento da história, inspirando os magistrados a serem justos e defensores do princípio do devido processo legal, com amplo direito à defesa e imparcialidade nos julgamentos”.
Vamos deixar isto bem claro: Gandra não apenas não é ateu. Ele não entende absolutamente nada de ateísmo e não pode, nem deve falar pelos ateus. A declaração dele é um insulto a todos os descrentes, não apenas por sua ignorância, mas principalmente por sua arrogância.
Sim, há ateus de todos os tipos. Mas todos eles entendem que, quando se trata de corroborar histórias como fatos, a existência de registros escritos pelas partes interessadas (ainda mais décadas ou séculos depois dos acontecimentos) tem tanta validade para assegurar a verdade do mito cristão quanto os filmes de Guerra nas Estrelas podem afirmar a existência de Luke Skywalker.
O que soa mais agudo na afirmação de Gandra é seu culturocentrismo tão exacerbado, a ponto de imaginar que até ateus compartilham de sua ficção a respeito da importância do personagem Jesus. Não é que Gandra não consiga conviver com o diferente: ele não consegue sequer aceitar que esses diferentes existam. Mas entenda-se bem o que estamos dizendo aqui. Não é que ele saiba que existamos, mas não nos aceite como somos. Ele simplesmente desconhece a existência dos ateus e de outros grupos tais como eles são, negando sua realidade e identificando-os como semelhantes a si mesmo em suas crenças mais fundamentais, como a importância de Jesus. Em outras palavras, para o jurista, todo mundo é Gandra — tamanha é sua compreensão da diversidade e da diferença de pensamento.
Para ajudar a trazê-lo à realidade, lembramos a ele que, para cada cristão no mundo, existem duas pessoas que não são cristãs. E essas pessoas não são cristãs exatamente porque enxergam o cristianismo pelo que ele é, da mesma maneira que Gandra vê as religiões do Egito antigo ou o islamismo: uma coleção de mitos e lendas, quem sabe temperados com uma pitada de esparsa realidade no que tiverem de menos importante.
Por que seria o julgamento dessa lenda em especial seria o julgamento mais injusto de toda os tempos se o réu não existiu, se a história real não é a mesma que a oficial (vide evangelhos apócrifos), ou se ele existiu e era apenas mais um lunático palestino com delírios de onipotência? Outras pessoas escolheriam os julgamentos de Giordano Bruno ou de Galileu. E por que não Sócrates ou Mandela? Só a instituição do valor do cristianismo, acima dos demais, justificaria a escolha da cruz ou do crucifixo. E é essa escolha que o Estado não pode fazer, pois cabe unicamente ao cidadão e suas iniciativas privadas. Não cabe ao Estado dizer qual foi o julgamento mais injusto de toda a história, assim como não lhe cabe dizer a que símbolos religiosos devemos deferência que os demais não merecem.
Gandra, se você acha que pode falar em nome do pai, do filho ou do espírito santo, tudo bem: pois sagrado é o direito ao delírio de cada um. Só não venha falar em nosso nome.
PS: logo depois da publicação deste texto, a iniciativa Brasil para Todos também se manifestou, respondendo aos argumentos do autor sobre símbolos religiosos aqui.