Argumentos

Esta página contém um breve apanhado dos motivos para ser ateu: os argumentos em favor do ateísmo. Devido à questão do ônus da prova (vide abaixo), muitos dos argumentos em favor do ateísmo são refutações dos argumentos em favor da existência de deuses. Se todas as refutações são sólidas, então o ateísmo é a única posição consistente.

Todos os argumentos são apresentados em uma versão simples e direta, para quem deseja apenas uma breve introdução ao assunto, e um pequeno complemento para os interessados em um pouco mais de profundidade.

Não pretendemos esgotar o assunto aqui. Há outros argumentos além dos que listamos, e todos eles podem ser desenvolvidos em maior detalhe e com maior riqueza. Apenas apresentamos pontos de partida para reflexão, e encorajamos a leitura de outros textos. Há diversas fontes de qualidade online, como por exemplo os presentes na excelente biblioteca do site infidels.org (em especial aqui), no about.com, em ateus.net e na STR. Um dos poucos livros em português que traz uma compilação de argumentos é Ateísmo e Liberdade, de André Cancian.

 

 

  • O ônus da prova

Todos os teístas (isto é, as pessoas que acreditam na existência de uma ou mais divindades) afirmam existir alguma divindade, e por isso cabe a eles o ônus da prova dessa afirmação. Em milhares de anos de teísmo, essa prova ainda não foi encontrada, e não há sinal de que um dia venha a ser. É verdade que existem os chamados argumentos de existência divina, mas todos eles são falhos, como mostramos abaixo. (Continue lendo)

 

  • “Ninguém foi capaz de provar a sua inexistência, portanto o deus X existe.”

Esse argumento tenta inverter o ônus da prova (vide acima). Com ele, podemos provar a existência de absolutamente qualquer coisa: “ninguém foi capaz de provar a inexistência do coelhinho da páscoa, então ele existe”. Se um argumento “prova” a existência de coisas inexistentes, então ele não prova nada. (Continue lendo)

 

  • “Sabemos da existência do deus X através da fé”

Com muita frequência se afirma que a fé dá provas, ou que a própria fé é uma prova. Mas é fácil perceber que ter fé é somente uma atitude, interna e pessoal como todas as atitudes. Ela nada nos diz sobre a realidade externa ao indivíduo. Se eu tiver fé que o Papai Noel existe, isso mostra que ele existe ou que eu me recuso obstinadamente a aceitar sua inexistência? (Continue lendo)

 

 

  • “Sei que o deus X existe porque ele faz (ou fez) milagres”

Como muitas supostas provas de existência divina, esta contém uma hipótese oculta — ou seja, uma hipótese que precisa ser verdadeira para que a prova funcione, embora isso não seja dito explicitamente. A hipótese oculta aqui é a de que só deuses fazem milagres — e, em especial, o deus cuja existência se está tentando provar. Um milagre poderia provar a existência de Thor, Amon-Rá, Tupã ou qualquer outro deus. E se a mula-sem-cabeça também for milagrosa, então os milagres poderiam provar a existência da dita mula. (Continue lendo)

 

  • “Se o deus X não existe, de onde veio [X]?”

Alguns tipos de argumentação são sólidos apenas na aparência. Eles são chamados de falácias. A afirmação acima constitui a chamada falácia da ignorância: só porque se ignora a existência de respostas alternativas a um problema, isso não significa que possamos adotar a resposta que bem entendemos. Por exemplo, até muito recentemente na história humana, era perfeitamente lícito usar argumentos como “mas se Zeus não existe, de onde vêm os raios?”. Aqui fica claro que o desconhecimento de meteorologia e eletromagnetismo não é uma prova da existência de Zeus. O mesmo se dá quando o argumento se refere a outros deuses, ou a outras entidades de origem desconhecida para o interlocutor. (Continue lendo)

 

 

  • “Se o deus X não existe, a vida não tem sentido.”

Poucas pessoas notam, mas isso não é sequer um argumento: é apenas a expressão do desejo pessoal de que esse deus exista para dar sentido à sua vida. E não se deve confundir como desejamos que seja o mundo com a maneira como ele realmente é. Quem pensa assim está apenas afirmando que sua vida pode não ter sentido. A afirmação nada nos diz sobre a existência desse deus. Analogamente, quem diz “se não existe um milhão de dólares na minha conta, então a vida não tem sentido” definitivamente não está provando a existência daquele milhão de dólares. (Continue lendo)

 

  • “Se você acreditar na existência do deus X, poderá ir para o paraíso, caso ele exista; caso ele não exista você não tem nada a perder acreditando nele. Por outro lado, se você não acreditar e ele existir, irá para o inferno.”

Esse é mais um “não-argumento”, pois nada nos diz a respeito da existência de deuses. É apenas uma proposta calculista de como agir com relação à questão, considerando custos e benefícios. Ainda que fosse verdade que é vantajoso acreditar em deuses (e não é), os ateus estão em busca imparcial da verdade, e não de mentiras com grandes potenciais de ganho. (Continue lendo)

 

  • “Todo mundo acredita em Deus. Todas as civilizações têm religião. Isso mostra que Deus existe.”

Não, não mostra. Uma mentira repetida mil vezes não vira verdade, assim como um erro muito popular não se torna um acerto. Além disso, é falso que todas as civilizações têm religião (a tribo dos Pirahãs, por exemplo, aqui mesmo no Brasil, não tem crença em nenhuma divindade. Curiosamente, um missionário inglês destacado para convertê-los acabou se tornando ateu). E é obviamente falso que “todo mundo” acredita em algum deus — quanto mais no deus dos cristãos. Afinal, em termos mundiais, para cada cristão existem hoje dois não-cristãos. Se muita gente tem a impressão de que não existem ateus é porque muitos descrentes se sentem forçados a ficar “no armário” devido ao preconceito e à discriminação que sofrem. Os cerca de 1,4% de ateus no Brasil correspondem a quase o triplo do número de umbandistas, candomblecistas, judeus e budistas juntos. (Continue lendo)

 

 

  • “Deus é como o amor: você não pode provar que ele existe, mas sabe que ele está lá”
A analogia é realmente muito boa, mas só prova que, assim como o amor, esse deus só existe dentro da cabeça das pessoas, e não fora. (Continue lendo)

 

 

  • “Existem muitas coisas que não podemos ver, mas sabemos que existem: o ar, as bactérias, os átomos, etc. O mesmo se dá com Deus.”

A questão da existência não tem nada a ver com a visão: trata-se de provas ou ao menos evidências. E há muitos tipos de evidências além das visuais. Temos todos os sentidos além da visão, e ainda a lógica e uma enorme variedade de aparelhos e técnicas que nos ajudam a coletar evidências e provas sobre o ar, as bactérias, os átomos e todas as coisas cuja existência damos como certa. Só na esfera místico-religiosa existem entidades cuja existência há quem aceite pacificamente sem evidências, ou mesmo apesar de evidências contrárias: deuses, anjos, espíritos, fantasmas, almas, “energias”, etc. (Continue lendo)

 

 

 

ARGUMENTOS RELATIVOS A DEUSES ESPECÍFICOS

Os argumentos acima são válidos para todos os tipos de deuses. Expomos abaixo argumentos relativos a apenas alguns tipos de deuses.

 

  •  Sobre deuses que criam almas e/ou que cuidam do seu destino após a morte dos indivíduos

Esses deuses não existem porque almas não existem. Na época em que foram escritos a bíblia e o corão, por exemplo, virtualmente nada se sabia sobre o universo. Acreditava-se que a Terra era o centro do universo, que todas as formas de vida haviam sido criadas simultaneamente em suas formas atuais em um passado recente, e que a matéria vida se distingue pela presença de uma certa “força vital”, cuja fonte era usualmente associada a uma ou mais divindades. Isso fica bem claro na mitologia cristã sobre o surgimento do homem, que usa expressões como “fôlego da vida” ou “sopro da vida” para descrever o que teria sido insuflado nas narinas de Adão para transformá-lo de barro em homem. O texto hebraico usa a palavra ruah (respiração ou espírito), e o em grego utilizou-se πνοην (pnoen), uma conjugação de πνεύμα (pneuma), que não por acaso é uma raiz que ainda hoje utilizamos para nos referir a ar — em português, inglês e muitas outras línguas. Como se notava que a morte sempre causava o fim da respiração, e vice-versa, imaginou-se que a respiração era a própria essência da vida. Pneuma ainda hoje significa espírito ou fantasma em grego.

Hoje em dia, qualquer criança que passe por uma boa escola aprende já no ensino fundamental que a Terra não é o centro do universo, que as formas de vida que conhecemos surgiram em instantes diferentes ao longo de bilhões de anos, que há séculos se sabe que a força vital não existe, e que nada há nos seres vivos além dos elementos químicos que também estão presentes nos compostos inorgânicos que formam o restante do universo, tais como hidrogênio, carbono, oxigênio, nitrogênio, etc. Esse é conhecimento corrente básico e consensual para o qual apontam uma infinidade de evidências científicas acumuladas ao longo de muitas décadas de experimentação. No entanto, infelizmente vivemos uma epidemia de ignorância científica em que grande parte da população desconheceos elementos mais básicos do conhecimento disponível. Relativamente poucas pessoas conseguem apontar corretamente a causa das estações ou o tempo necessário para a Terra dar uma volta completa em torno do Sol, por exemplo.

Muitas pessoas percebem que nosso cérebro é responsável pelo que somos: nossa personalidade, nosso humor, nossas memórias, nossos julgamentos morais, nossas inibições, nossos pensamentos e decisões. Uma pancada na cabeça pode acabar com sua memória. Um copo de álcool pode eliminar suas memórias e suas inibições, e alterar radicalmente seu senso moral. Antidepressivos alteram nosso humor. Doenças neurológicas afetam nossa personalidade e a maneira de nos relacionarmos com os outros. No entanto, essas pessoas não se dão conta de que esses fatos são incompatíveis com a ideia de uma alma imaterial ou transcendente que seria a fonte de nossa consciência. A alma não pode ser responsável pela memória, pois álcool, sedativos e pancadas na cabeça não poderiam atingir a alma. Pelo mesmo motivo, a alma não pode ser responsável por nosso humor, personalidade, consciência ou julgamentos morais. De fato, se houvesse qualquer influência externa de uma alma comandando o cérebro humano e seus processos, as faculdades de medicina precisariam ensinar teologia dentro dos cursos de neurologia. Mas não é o caso.

Em suma, até as pessoas minimamente bem informadas sobre o funcionamento do corpo humano já possuem o conhecimento necessário para perceber que toda nossa vida mental surge e se processa em nosso sistema nervoso, e não em uma fonte externa a ele, o que significa que almas não existem. É claro que isso não significa que não existe nenhum deus, apenas que não existem deuses que cuidam de almas. Por outro lado, esse fato dá um golpe mortal no cristianismo e no islamismo, por exemplo, cuja essência está nas ações necessárias para dar bom destino a essa peça de ficção chamada alma ou espírito. Como não existem almas, não existe nada a ser “salvo”, nem céu, nem inferno, tornando sem sentido toda a teologia do monoteísmo ocidental. Bem poucas pessoas estariam dispostas a crer em qualquer divindade nessas condições.

 

 

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